Crítica: Batem à Porta


Batem a Porta” é o mais novo lançamento do diretor M. Night Shyamalan, baseado em um livro (“O Chalé no Fim do Mundo” - Paul Tremblay), a narrativa é daquelas capazes de envolver o público no centro do dilema, deixando-o confuso, tenso, chocado, surpreso, com raiva e fluindo junto as emoções das personagens. 

“Batem a Porta" se apresenta como uma história tensa, nos primeiros minutos a sua mente roda em busca de alguma informação na qual você possa se segurar, buscando por um grande vilão. Isso porque você mal senta na poltrona do cinema e o problema já está na soleira. 

A sinopse - durante as férias em uma cabana remota, uma jovem e seus pais são feitos reféns por quatro estranhos armados que exigem que a família faça uma escolha impensável para evitar o apocalipse. - ou o trailer -  -  nada entregam, o filme vai além de sua premissa, carregando quem o assiste por um caminho de reflexões e dúvidas.  



Uma obra repleta de tensão e absurdo que cresce de uma hora pra outra, te deixando sem ar e perdido, enquanto busca compreender as motivações. As portas da insanidade são abertas com gosto nessa adaptação, onde aparências e ações são colocadas em atrito o tempo inteiro; o suspense se cria em torno das dúvidas plantadas, dúvidas que são mantidas até o final, sendo respondidas só nos últimos instantes.

Começando pelo cenário, que é bem típico de filmes de terror, um chalé isolado, sem sinal de celular e acesso a internet, onde os maiores horrores podem acontecer sem interrupções. A rotina da garotinha Wen (interpretada pela atriz mirim Kristen Cui) e seus pais Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Aldridge) é interrompida por quatro estranhos. Dois homens e duas mulheres,  chegam ao chalé armados trazendo uma proposta da qual depende o futuro do mundo. A proposta soa como um absurdo psicótico, e a busca por uma resposta plausível para tal irracionalidade começa nas poltronas e nas telas. O que levaria quatro estranhos a cometer a loucura de uma proposta com tamanha indecência? Preconceitos? Loucura? Alguma espécie de culto de uma seita violenta?

Todas as possibilidades vão sendo exploradas, enquanto horrores visuais se desenrolam diante das 'vítimas', mentiras, conspirações e por fim a verdade.  A busca por uma justificativa plausível colabora para que a mente de cada envolvido vá saindo do controle e deixe que a insanidade assuma as rédeas. E qual a justificativa, o motivo, a causa, razão ou circunstância para tudo que está acontecendo? O público tão pouco sabe. Há apenas a palavra dos estranhos e nossa fé ou não em sua sinceridade. Deixando quem acompanha a narrativa no escuro tanto quanto os protagonistas, e não sabemos nada além do que é contado a eles. É um recurso interessante que emprenha o filme em um suspense tenso e instigante.

A fotografia faz parte da linguagem escolhida pelo diretor, que, que desde o começo comunica de forma sutil alguns aspectos que se apresentam na resolução da história. O casal protagonista é, de forma geral, um encaixe perfeito. Um apresenta toda a racionalidade e falta de crença, não só de forma religiosa, mas a sua fé no mundo se apresenta balançada devido a traumas do passado; enquanto o outro carrega a emoção e a fé de que, mesmo com tanta maldade, o mundo é um lugar de possíveis belezas. Isso cria uma dinâmica interessante na narrativa, enquanto um argumenta o outro escuta com atenção, pondera com sentimento e toda a sua fé na humanidade.  Na fotografia, essa completude se mostra com a luz e sombra, onde a claridade sempre atinge mais um deles do que o outro.

A trilha sonora é um show discreto, deixando o público com silêncio, sons naturais e ambientes, e aplicando a trilha sonora de forma tão sutil que passa despercebida, não diminuindo a fluidez da narrativa. Elementos narrativos que comprovam a maestria de Shyamalan na direção, que não conversa com o público, o coloca dentro da narrativa com uma facilidade imensa.

O final do filme tem um sabor agridoce, você se ressente pelos acontecimentos, desvenda detalhes e se questiona, quanto de mundo real se esconde por trás de cada cena dessa obra surreal.

Batem à Porta chega hoje, 01 de fevereiro, nos cinemas!

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